A INDÚSTRIA CULTURAL – 9º
A partir da ligação entre política, estética
e ética, vemos na história as transformações das artes, desde sua função
religiosa até sua emancipação como criação e expressão de algo. Nesse
caminho, há duas posições:
1-a do fazer
artístico: com o surgimento dos estilos ou das escolas de arte – clássico,
gótico, renascentista, barroco, rococó, romântico, impressionista, realista,
etc., muito ligada entre o fazer e a matéria;
2-a da
finalidade social e artística: a arte para o culto religioso ou para o
mercado de arte.
Chegamos
também a duas posições filosóficas opostas nas discussões sobre arte e
sociedade. Há quem defenda que arte só é arte se for pura, aquela que deixa
de lado as circunstâncias históricas, sociais, econômicas e políticas: a arte
pela arte. Em oposição, temos a defesa de que o valor de uma obra de arte
está em seu compromisso crítico com a sociedade – é a arte engajada, com a
qual o artista posiciona-se e busca conscientizar as pessoas sobe injustiças
e opressões, sobre a realidade como ela é, vista pelo artista.
As duas
posições são problemáticas. Numa, temos o formalismo (o que importa é a
perfeição na obra artística) e, em outra, o conteudismo (a mensagem). Saindo
dessas posições, temos o filósofo Walter Benjamim (1892-1940), que analisou o
modo de relação entre arte e sociedade no mundo capitalista tecnológico
contemporâneo. A análise dele refere-se ao fim da aura artística substituída
pela reprodução técnica das obras de arte.
O que é a
reprodução técnica? É a existência do objeto artístico em série, que torna
difícil a distinção entre o original e a cópia.
Benjamim, na
década de 1930, falava da arte e de suas mudanças diante do nazi-fascismo
emergente na Europa e da esperança na Revolução Socialista, porque defensores
do nazi-fascismo inverteram a visão da política e da guerra, colocando-as
como espetáculos artísticos. Assim, ele fala da estetização da política e da
guerra ocorrida pela propaganda e pelos espetáculos de massa (jogos, paradas
militares, danças, ginásticas, discursos políticos, músicas). O objetivo era
tocar fundo nas emoções e paixões mais primitivas do homem. Já a esperança
socialista vinha como o sonho de emancipação do ser humano e consequentemente
democratização da cultura, ou seja, acesso para todos às obras artísticas,
especialmente para os trabalhadores.
Com o
término da Segunda Guerra Mundial e do nazi-fascismo, não houve fim da
massificação propagandística da arte. Ela foi incorporada pelo stalinismo nos
países do leste europeu e pela indústria cultural nos países capitalistas.
Então, surgiu o que chamamos de cultura de massa.
A arte não
se democratizou, houve massificação da arte para consumo rápido no mercado.
Pela propaganda e publicidade os meios de comunicação impuseram uma estética
consumista, padrões de beleza, futilidades e até superficialidades. Teve-se
então:
a-desvirtuamento das características da arte; ( b )-em vez de ser
expressiva, passou a ser reprodutiva e repetitiva;
c-em vez de ser trabalho de criação, obedecia às leis de mercado e
consumo;
d-em vez de trazer o novo, perpetuava a fórmula da consagração do
produto que é consumido.
O que é a
democratização da arte, da cultura? É a ideia de que os bens culturais são
direito de todos. Isso implica direitos de acesso às obras culturais e de
prazer estético com elas, direito à informação, à formação e à produção
cultural.
O que vemos
em nossa realidade? A efetivação da massificação cultural, que pode ser
analisada sob quatro aspectos:
1)A
indústria cultural cria uma divisão social entre “elite culta” e “massa
inculta”. Produtos caros e raros são criados para quem pode pagar e produtos
baratos e comuns vão para a massa. O ganho não garante o mesmo direito à
produção artística;
2)A
indústria cultural cria a ilusão democrática do acesso de todos a tudo que é
cultural, artístico. A realidade é outra – basta ver as publicações dos
periódicos, das revistas, dos programas de rádio, da televisão aberta e paga.
3)A
indústria cultural vende cultura e, então, cria a figura do “médio” (o
leitor, ouvinte, espectador). Não produz nada que faça o consumidor pensar,
ter mais informações, que o provoque. Antes, desenvolve produtos com novas
aparências, ao estilo “já sei, já vi, já fiz”. Nada mais é do que o senso
comum sob outra roupagem;
4)A
indústria cultural impõe a ideia de cultura só como lazer, entretenimento,
diversão, distração, passatempo, e isso vende, dá lucro. O que faz pensar,
exige esforço para sintetizar, buscar criar, não vende, não tem mercado.
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quinta-feira, 23 de outubro de 2014
INDÚSTRIA CULTURAL
CONCEITO DE FENÔMENO
Renovação do conceito de fenômeno – 2 ano
Desde
Kant, fenômeno indicava aquilo que, do mundo externo, se oferece ao sujeito do
conhecimento, sob as estruturas cognitivas da consciência (isto é, sob as
formas do espaço e do tempo e sob os conceitos do entendimento). No entanto, o
filósofo Hegel ampliou o conceito de fenômeno, afirmando que tudo o
que
aparece só pode aparecer para uma consciência e que a própria consciência mostra-se
a si mesma no conhecimento de si, sendo ela própria um fenômeno.
Por
isso, foi Hegel o primeiro a usar a palavra fenomenologia, para com ela indicar
o conhecimento que a consciência tem de si mesma através dos demais fenômenos
que lhe aparecem.
Husserl
mantém o conceito kantiano e hegeliano, mas amplia ainda mais a noção de
fenômeno. Para compreendermos essa ampliação precisamos considerar a crítica
que endereça a Kant e a Hegel.
Kant
equivocou-se ao distinguir fenômeno e nôumeno, pois, com essa distinção, manteve
a velha idéia metafísica da realidade em si ou do “Ser enquanto Ser”, mesmo que
dissesse que não a podíamos conhecer. Hegel, por sua vez, aboliu a diferença
entre a consciência e o mundo, porque dissera que este nada mais é do que o
modo como a consciência se torna as próprias coisas, torna-se mundo ela mesma,
tudo sendo fenômeno: fenômeno interior – a consciência – e fenômeno exterior –
o mundo como manifestação da consciência nas coisas.
Contra
Kant, Husserl afirma que não há nôumeno, não há a “coisa em si” incognoscível.
Tudo o que e xiste é fenômeno e só existem fenômenos. Fenômeno é a presença
real de coisas reais diante da consciência; é aquilo que se apresenta diretamente,
“em pessoa”, “em carne e osso”, à consciência.
Contra
Hegel, Husserl afirma que a consciência possui uma essência diferente das
essências dos fenômenos, pois ela é doadora de sentido às coisas e estas são receptoras
de sentido. A consciência não se encarna nas coisas, não se torna as próprias
coisas, mas dá significação a elas, permanecendo diferente delas.
O que é o
fenômeno? É a essência.
O que é a
essência? É a significação ou o sentido de um ser, sua idéia, seu eidos.
A
Filosofia é a descrição da essência da consciência (de seus atos e correlatos)
e das essências das coisas. Por isso, a Filosofia é uma eidética –
descrição do eidos ou das essências. Como o eidos ou essência é o
fenômeno, a Filosofia é uma fenomenologia.
Texto
de Marilena Chauí, em Convite à Filosofia.
VIDA E MORTE
VIDA E MORTE - 3 ano
Vida
e morte não são, para nós humanos, simples acontecimentos biológicos.
Como disse um filósofo, as coisas aparecem e desaparecem, os
animais começam e acabam, somente o ser humano vive e morre, isto é, existe.
Vida e morte são acontecimentos simbólicos, são significações, possuem
sentido e fazem sentido.
Viver e morrer são a descoberta da finitude humana, de nossa
temporalidade e de nossa identidade: uma vida é minha e minha, a
morte. Esta, e somente ela, completa o que somos, dizendo o que fomos. Por
isso, os filósofos estóicos propunham que somente após a morte, quando terminam
as vicissitudes da vida, podemos afirmar que alguém foi feliz ou infeliz.
Enquanto vivos, somos tempo e mudança, estamos sendo. Os filósofos
existencialistas disseram: a existência precede a essência, significando com
isso que nossa essência é a síntese final do todo de nossa existência. “Quem não souber morrer bem terá
vivido mal”,
afirmou Sêneca.
Morrer é um ato solitário. Morre-se só:
a essência da morte é a solidão. O morto parte sozinho; os vivos ficam sozinhos
ao perdê-lo. Resta saudade e recordação.
Viver é estar com os outros. Vive -se
com outrem: a essência da vida é a intercorporeidade e a intersubjetividade. Os
vivos estão entrelaçados: estamos com os outros e eles estão conosco, somos
para os outros e eles são para nós.
A ética é o mundo das relações
intersubjetivas, isto é, entre o eu e o outro como sujeitos e pessoas,
portanto, como seres conscientes, livres e responsáveis. Nenhuma experiência
evidencia tanto a dimensão essencialmente intersubjetiva da vida e da vida
ética quanto a do diálogo. Porque a vida é intersubjetividade corporal e
psíquica, e porque a vida ética é reciprocidade entre sujeitos, tantos
filósofos deram à amizade o lugar de virtude proeminente, expressão do mais
alto ideal de justiça. Num ensaio, Discurso da servidão voluntária,
procurando compreender por que os homens renunciam à liberdade e voluntariamente
servem aos tiranos.
Espinosa afirma que o ser humano é mais
livre na companhia dos outros do que na solidão e que “somente os seres humanos
livres são gratos e reconhecidos uns aos outros”, porque os sujeitos livres são
aqueles que “nunca agem com fraude, mas sempre de boa-fé”.
Se perguntarmos quais são, afinal, os
valores, os motivos, os fins e os comportamentos éticos, responderemos dizendo
que são aqueles nos quais buscamos eliminar a violência na relação com o outro,
ao mesmo tempo em que procuramos manter a fidelidade a nós mesmos. Ético é não
desaprender “a linguagem com que os homens se comunicam” e deixar “o coração
crescer” para sermos mais nós mesmos quanto mais formos capazes de
reciprocidade e solidariedade.
A ética se move no campo das paixões,
dos desejos, das ações e dos princípios, possuindo uma dimensão valorativa e
normativa. Por um lado, valores e normas são exteriores e anteriores a nós,
definidos pela Cultura e pela sociedade onde vivemos; mas, por outro lado,
somos sujeitos éticos e, portanto, capazes tanto de interiorizar valores
e normas existentes, quanto de criar novos valores e normas.
Minha liberdade, escreve um filósofo, é
o poder fundamental que tenho de ser o sujeito de todas as minhas experiências.
Por atos de liberdade, interpretamos nossa situação – valores, normas,
princípios – e dessa interpretação nasce em nós a aceitação ou a recusa, a
interiorização ou a transgressão, a continuação ou a criação. A ação mais alta
da vida livre, disse Nietzsche, é nosso poder para avaliar os valores.
O filósofo grego Epicuro escreveu: “O
essencial para nossa felicidade é nossa condição íntima e dela somos senhores”.
Ser senhor de si – isto é, autônomo – e ser capaz de philia – isto é, de
reciprocidade, de relação intersubjetiva como coexistência e não-violência – é
o núcleo da vida ética. Como disse Epicuro, “a
justiça não existe por si própria, mas
encontra-se sempre nas relações recíprocas, em qualquer tempo e lugar em que
exista entre os humanos o pacto de não causar nem sofrer dano”.
Texto de Marilena Chauí, em Convite à
Filosofia.
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
O BELO
O BELO
Somos racionais e sensíveis, ou seja,
comunicamos e percebemos os sentimentos dos outros. Por isso, as experiências
estéticas são, em geral, as agradáveis. Também temos muitas experiências
agradáveis, como um “belo banho quente”, para os dias frios, “belas férias”,
“um belo dia ensolarado”, “uma bela refeição”,
que não poderiam ser chamadas de experiências estéticas.
Convencionamos a beleza como o conjunto
de graças e proporções das parte que agradam aos nossos sentidos e à
imaginação. Assim, tudo na natureza é capaz de proporcionar uma experiência
estética. Temos então o problema do belo artístico e do belo natural.
O que e o belo natural? A natureza em
geral nos parece bela. Em sua realidade, a natureza não expressa nada, nós lhe
atribuímos uma voz, uma linguagem que nos fala. Por isso, a contemplação
estética da natureza é um animismo (crença que os seres da natureza são dotados
de alma ) e um antropomorfismo (criar formas humanas aos animais e vegetais). O
belo natural é a transposição de ideias, sentimentos, aspirações humanas ao
mundo da natureza.
O que é o belo artístico? O objeto da arte, antes de ser belo, é expressivo.
Em geral, o que exprime é o “interior”. Aqui temos também a grande discussão
sobre arte e natureza, se a arte deve imitar a natureza ou o contrário.
Existem defesas a favor de que a única
beleza verdadeiramente estética é aquela que a arte oferece a nossos sentidos.
Para os que defendem essa postura, há a seguinte terminologia, para fazer as
distinções:
a) Estético ou belo; ( b) inestético ou feio; ( c )
anestético ou neutro, sem qualificação estética.
Assim, o belo agrada à nossa consciência
artística. Porém, o que é o belo?
Platão associava a ideia de belo à ideia
do bem. Ele afirmava que se alguma coisa nos provoca a admiração da alma – o
belo físico, as formas, os sons, as cores – é porque o belo acorda em nós a
lembrança de um bem perdido, um bem que nossas almas possuíam quando,
dissolvidas no coro dos bem-aventurados ( no mundo das ideias) contemplavam o
magnífico espetáculo das ideias ou essências eternas, entre as quais brilha a
beleza.
Aristóteles via o belo nos componentes
reais da beleza, na proporção das partes. Assim, agrega a esses componentes os
aspectos de simetria e extensão e os de ordem e limite.
Da forma como ambos viam a questão do
belo deriva a teoria geral da beleza, com base na qual as concepções estéticas,
com diferentes modulações, perduraram até o século XVIII. A partir daí, houve a
determinação do belo como eixo da reflexão estética, deslocando-se do objeto
para o sujeito.
Hoje existem posições que defendem que o
belo não pode ser confundido nem com o agradável, nem com o útil, nem com o
verdadeiro, nem com o bom. Podemos, sim, formalmente defini-lo como aquilo que
suscita nas pessoas um particular sentimento chamado de emoção estética ou
então aquilo que “agrada” universalmente.
Sobre o belo há duas colocações que
destacamos:
1) Os que aceitam o belo como existente em sí e o
consideram uma propriedade do objeto. O belo é universal, absoluto.
2) Os que consideram o belo um simples produto da
atividade mental do homem. Então, não existe em si mesmo, mas em nós. O belo é
relativo e mutável com o tempo, os lugares e as pessoas.
É preciso, estar atento ao comparar o
belo com outras características artísticas, tais como o sublime, o trágico, o cômico e o feio. Vejamos:
A- Na característica artística sublime, o objeto observado nos faz admirar, por meio da
imaginação, o que não vemos. Por mais sensível que seja o observador, não pode
chegar à completa captação do objeto observado. Exemplo: um filme sublime, um
poema, uma atitude humanitária.
B- Na característica artística trágico, ocorre o mesmo, porém, a intensidade material ou
espiritual eleva-se e impõe-se em forma opressora sobre o humano. Por ex.: uma
foto de um crime bárbaro. Quando ficamos submetidos por longo tempo a emoções
trágicas, cansamos como se estivéssemos participando da ação.
C- Na característica artística cômica ou alógica, há quebra da unidade e perfeição do objeto,
produzindo o efeito de contraste, o que provoca o riso.
Na
característica artística feio, temos
o propósito aberto de desfigurar os objetos ou de realçar defeitos corporais ou
anímicos. O resultado é uma emoção estética negativa, que resulta de já
conhecermos o positivo, aquilo que deveria ou poderia ser e que de fato não é.
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