quinta-feira, 23 de outubro de 2014

INDÚSTRIA CULTURAL



A INDÚSTRIA CULTURAL – 9º
 A partir da ligação entre política, estética e ética, vemos na história as transformações das artes, desde sua função religiosa até sua emancipação como criação e expressão de algo. Nesse caminho, há duas posições:
1-a do fazer artístico: com o surgimento dos estilos ou das escolas de arte – clássico, gótico, renascentista, barroco, rococó, romântico, impressionista, realista, etc., muito ligada entre o fazer e a matéria;
2-a da finalidade social e artística: a arte para o culto religioso ou para o mercado de arte.
Chegamos também a duas posições filosóficas opostas nas discussões sobre arte e sociedade. Há quem defenda que arte só é arte se for pura, aquela que deixa de lado as circunstâncias históricas, sociais, econômicas e políticas: a arte pela arte. Em oposição, temos a defesa de que o valor de uma obra de arte está em seu compromisso crítico com a sociedade – é a arte engajada, com a qual o artista posiciona-se e busca conscientizar as pessoas sobe injustiças e opressões, sobre a realidade como ela é, vista pelo artista.
As duas posições são problemáticas. Numa, temos o formalismo (o que importa é a perfeição na obra artística) e, em outra, o conteudismo (a mensagem). Saindo dessas posições, temos o filósofo Walter Benjamim (1892-1940), que analisou o modo de relação entre arte e sociedade no mundo capitalista tecnológico contemporâneo. A análise dele refere-se ao fim da aura artística substituída pela reprodução técnica das obras de arte.
O que é a reprodução técnica? É a existência do objeto artístico em série, que torna difícil a distinção entre o original e a cópia.
Benjamim, na década de 1930, falava da arte e de suas mudanças diante do nazi-fascismo emergente na Europa e da esperança na Revolução Socialista, porque defensores do nazi-fascismo inverteram a visão da política e da guerra, colocando-as como espetáculos artísticos. Assim, ele fala da estetização da política e da guerra ocorrida pela propaganda e pelos espetáculos de massa (jogos, paradas militares, danças, ginásticas, discursos políticos, músicas). O objetivo era tocar fundo nas emoções e paixões mais primitivas do homem. Já a esperança socialista vinha como o sonho de emancipação do ser humano e consequentemente democratização da cultura, ou seja, acesso para todos às obras artísticas, especialmente para os trabalhadores.
Com o término da Segunda Guerra Mundial e do nazi-fascismo, não houve fim da massificação propagandística da arte. Ela foi incorporada pelo stalinismo nos países do leste europeu e pela indústria cultural nos países capitalistas. Então, surgiu o que chamamos de cultura de massa.
A arte não se democratizou, houve massificação da arte para consumo rápido no mercado. Pela propaganda e publicidade os meios de comunicação impuseram uma estética consumista, padrões de beleza, futilidades e até superficialidades. Teve-se então:
a-desvirtuamento das características da arte; ( b )-em vez de ser expressiva, passou a ser reprodutiva e repetitiva;
c-em vez de ser trabalho de criação, obedecia às leis de mercado e consumo;
d-em vez de trazer o novo, perpetuava a fórmula da consagração do produto que é consumido.
O que é a democratização da arte, da cultura? É a ideia de que os bens culturais são direito de todos. Isso implica direitos de acesso às obras culturais e de prazer estético com elas, direito à informação, à formação e à produção cultural.
O que vemos em nossa realidade? A efetivação da massificação cultural, que pode ser analisada sob quatro aspectos:
1)A indústria cultural cria uma divisão social entre “elite culta” e “massa inculta”. Produtos caros e raros são criados para quem pode pagar e produtos baratos e comuns vão para a massa. O ganho não garante o mesmo direito à produção artística;
2)A indústria cultural cria a ilusão democrática do acesso de todos a tudo que é cultural, artístico. A realidade é outra – basta ver as publicações dos periódicos, das revistas, dos programas de rádio, da televisão aberta e paga.
3)A indústria cultural vende cultura e, então, cria a figura do “médio” (o leitor, ouvinte, espectador). Não produz nada que faça o consumidor pensar, ter mais informações, que o provoque. Antes, desenvolve produtos com novas aparências, ao estilo “já sei, já vi, já fiz”. Nada mais é do que o senso comum sob outra roupagem;
4)A indústria cultural impõe a ideia de cultura só como lazer, entretenimento, diversão, distração, passatempo, e isso vende, dá lucro. O que faz pensar, exige esforço para sintetizar, buscar criar, não vende, não tem mercado.

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