Renovação do conceito de fenômeno – 2 ano
Desde
Kant, fenômeno indicava aquilo que, do mundo externo, se oferece ao sujeito do
conhecimento, sob as estruturas cognitivas da consciência (isto é, sob as
formas do espaço e do tempo e sob os conceitos do entendimento). No entanto, o
filósofo Hegel ampliou o conceito de fenômeno, afirmando que tudo o
que
aparece só pode aparecer para uma consciência e que a própria consciência mostra-se
a si mesma no conhecimento de si, sendo ela própria um fenômeno.
Por
isso, foi Hegel o primeiro a usar a palavra fenomenologia, para com ela indicar
o conhecimento que a consciência tem de si mesma através dos demais fenômenos
que lhe aparecem.
Husserl
mantém o conceito kantiano e hegeliano, mas amplia ainda mais a noção de
fenômeno. Para compreendermos essa ampliação precisamos considerar a crítica
que endereça a Kant e a Hegel.
Kant
equivocou-se ao distinguir fenômeno e nôumeno, pois, com essa distinção, manteve
a velha idéia metafísica da realidade em si ou do “Ser enquanto Ser”, mesmo que
dissesse que não a podíamos conhecer. Hegel, por sua vez, aboliu a diferença
entre a consciência e o mundo, porque dissera que este nada mais é do que o
modo como a consciência se torna as próprias coisas, torna-se mundo ela mesma,
tudo sendo fenômeno: fenômeno interior – a consciência – e fenômeno exterior –
o mundo como manifestação da consciência nas coisas.
Contra
Kant, Husserl afirma que não há nôumeno, não há a “coisa em si” incognoscível.
Tudo o que e xiste é fenômeno e só existem fenômenos. Fenômeno é a presença
real de coisas reais diante da consciência; é aquilo que se apresenta diretamente,
“em pessoa”, “em carne e osso”, à consciência.
Contra
Hegel, Husserl afirma que a consciência possui uma essência diferente das
essências dos fenômenos, pois ela é doadora de sentido às coisas e estas são receptoras
de sentido. A consciência não se encarna nas coisas, não se torna as próprias
coisas, mas dá significação a elas, permanecendo diferente delas.
O que é o
fenômeno? É a essência.
O que é a
essência? É a significação ou o sentido de um ser, sua idéia, seu eidos.
A
Filosofia é a descrição da essência da consciência (de seus atos e correlatos)
e das essências das coisas. Por isso, a Filosofia é uma eidética –
descrição do eidos ou das essências. Como o eidos ou essência é o
fenômeno, a Filosofia é uma fenomenologia.
Texto
de Marilena Chauí, em Convite à Filosofia.
Marilena sem sombra de dúvida é a melhor filósofa do Brasil.
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